quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Nordeste Independente

Salve a todos que acompanham o blog, devido aos recentes acontecimentos resolvi postar uma música bastante rica (assim como toda a cultura nordestina) em homenagem a nossa 'amiga' Mayara Petruso. Caso alguém esteja desatualizado (coisa pouco provável de acontecer com meus bem informados leitores rsrs) Mayara Petruso é a xenofóbica do twitter que causou polêmica, ao responsabilizar os nordestinos pela vitória de Dilma Rousseff, com a infeliz declaração: "nordestino não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado!" (se Nordestino não é gente por isso, então o que são os paulistas ao eleger Tiririca com mais de um milhão de votos? Lembrando (com uma certa vegonha rsrs) que o próprio Tiririca é Nordestino)
Pois bem, como este é um blog de música não vamos nos aprofundar em outras questões que não seja música (apesar de achar que alguém com a capacidade de falar tamanha besteira como a Mayra falou só pode ter cabeça de camarão, mas efim...) e a música de hoje é de autoria de dois grandes compositores (adivinha só?) Nordestinos; Ivanildo Vila Nova (13/10/1945 Caruaru-PE) e Bráulio Tavares (Campina Grande, 1950) a música gravada por Elba Ramalho, Nordestina e bicampeã do Grammy Latino (2008 e 2009), e fala a respeito de uma suposta separação do Nordeste com o resto do país tornando a região um país independente. Na verdade não há muito o que falar, a canção fala por si, então vamos a ela

Nordeste Independente

Elba Ramalho

Composição: Bráulio Tavares/Ivanildo Vilanova

Já que existe no sul esse conceito
Que o nordeste é ruim, seco e ingrato
Já que existe a separação de fato
É preciso torná-la de direito
Quando um dia qualquer isso for feito
Todos dois vão lucrar imensamente
Começando uma vida diferente
De que a gente até hoje tem vivido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Dividindo a partir de Salvador
O nordeste seria outro país
Vigoroso, leal, rico e feliz
Sem dever a ninguém no exterior
Jangadeiro seria o senador
O cassaco de roça era o suplente
Cantador de viola o presidente
O vaqueiro era o líder do partido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Em Recife o distrito industrial
O idioma ia ser nordestinense
A bandeira de renda cearense
“Asa Branca” era o hino nacional
O folheto era o símbolo oficial
A moeda, o tostão de antigamente
Conselheiro seria o inconfidente
Lampião, o herói inesquecido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
O Brasil ia ter de importar
Do nordeste algodão, cana, caju
Carnaúba, laranja, babaçu
Abacaxi e o sal de cozinhar
O arroz, o agave do lugar
O petróleo, a cebola, o aguardente
O nordeste é auto-suficiente
O seu lucro seria garantido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Se isso aí se tornar realidade
E alguém do Brasil nos visitar
Nesse nosso país vai encontrar
Confiança, respeito e amizade
Tem o pão repartido na metade,
Temo prato na mesa, a cama quente
Brasileiro será irmão da gente
Vai pra lá que será bem recebido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Eu não quero, com isso, que vocês
Imaginem que eu tento ser grosseiro
Pois se lembrem que o povo brasileiro
É amigo do povo português
Se um dia a separação se fez
Todos os dois se respeitam no presente
Se isso aí já deu certo antigamente
Nesse exemplo concreto e conhecido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Povo do meu Brasil
Políticos brasileiros
Não pensem que vocês nos enganam
Porque nosso povo não é besta

(Reparem que no final o nordeste não guarda rancor e diz que o Brasil será bem vindo assim como Portugal, a hospitalidade e sabedoria típica do povo Nordestino, por isso que sua cultura é imbatível)

Lembrando que esse post é dedicado a Mayara Petruso, homenageando a sua inteligência e postura política atributos que todo bom jurista deve ter (por mais incrível que possa parecer ela está fazendo um curso superior... e de direito.

A todos vocês que acompanham o blog seu comentário é muito importe em especial para esse post. Obrigado, abraço e não deixem de comentar.
para ouvir Nordeste Independente clique aqui

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A tropa, o calibre e o sistema



Ontem fui com a minha mulher ver tropa de elite 2, cujo subtítulo (apesar de não ter gostado por achar didático demais e pouco criativo) é "o inimigo agora é outro". E a minha cabeça explodiu! Sou fã (alias muito fã) do primeiro filme, realmente acho um grande filme tanto no que se diz respeito a temática quanto a produção técnica e artística do filme e o que eu vi ontem fui um filme extremamente superior ao primeiro que já era com o perdão da palavra; foda. O tropa 2 trás assuntos mais complexos e bem aprofundados sobre a realidade do (mundo) Brasil tendo como plano de fundo a cidade do Rio de Janeiro e também uma maior humanização ao personagem do, agora Coronel, Nascimento (carinhosamente conhecido como Chuck Norris brasileiro) além de mais uma vez com muita inteligência trazer uma importante reflexão sobre direitos humanos, ética, sobre os dois lados da moeda, dentre outras coisas e até certas desconstruções sobre algumas "verdades" tanto no micro quanto no macro ambiente... enfim antes de começar a viajar demais vou falar um pouco da música de hoje (afinal esse ainda é um blog de música rs...). Não a música de hoje não é do Tihuana e tão pouco o funk de Mc Cidinho e Doca (nós já sabemos que o Morro do Dendê é ruim de invadir) fiquem sossegados. A música de hoje é "O Calibre" dos Paralamas do Sucesso (do disco Longo Caminho - EMI music 2002) que integra a trilha sonora do filme . É curioso porque essa já seria a próxima música do blog por alguns motivos simples, um deles é que sou fã dos paralamas desde sempre e quando a música foi lançada em 2002 logo após o acidente do Herbert (para mim um dos melhores letristas vivo) eu pirei e não parei de escutar durante um bom tempo. É bem verdade que se não tivesse assistido ao filme ontem com certeza esse post só sairia em janeiro ou até mesmo depois do carnaval (considerando a falta de freqüência das postagens... erro meu, eu sei, mas dessa vez não vou prometer nada rs...) e esse incentivo do filme também me trouxe melhor esclarecimento sobre a letra da música, que possui em ótica bem maior do que a que eu enxergava. O filme fala sobre o sistema de uma forma simples e clara, ideal para quem não conhece ou acredita começar a refletir a esse respeito, o trafico e as milícias sustentam os políticos, que sustentam empresários e assim por diante até o topo da cadeia dominada por um pequeno e anônimo grupo. O sistema está em toda parte em tudo, e isso também é exemplificado no filme quando a milícia se instala na favela. Água, Gás, Luz, TV a cabo (clandestina) tudo passa ser dominado pela milícia, pelo sistema...
Mas voltando a música (que surge nos créditos do filme) o trecho que mais me chamou atenção e que mais se encaixa no filme fazendo todo o sentido é "E a vida já não é mais vida /No caos ninguém é cidadão / As promessas foram esquecidas / Não há estado, não há mais nação sendo completada por Perdido em números de guerra / Rezando por dias de paz / Não vê que a sua vida aqui se encerra / Com uma nota curta nos jornais
esse fragmento da música é quase como um resumo do filme. quanto ao sistema meu amigo Rafael Paz tem um blog dedicado a ele (um pouco radical é verdade, para os que não estão acostumados com o tema pode ser chocante ou motivo de piada mas vale conferir) e com vocês a realidade descrita por Herbert e os Paralamas.


O Calibre
Paralamas do Sucesso


Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo
Sem saber o calibre do perigo
Eu não sei d'aonde vem o tiro
Por que caminhos você vai e volta?
Aonde você nunca vai?
Em que esquinas você nunca pára?
A que horas você nunca sai?
Há quanto tempo você sente medo?
Quantos amigos você já perdeu?
Entrincheirado, vivendo em segredo
E ainda diz que não é problema seu
E a vida já não é mais vida
No caos ninguém é cidadão
As promessas foram esquecidas
Não há estado, não há mais nação
Perdido em números de guerra
Rezando por dias de paz
Não vê que a sua vida aqui se encerra
Com uma nota curta nos jornais
Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo
Sem saber o calibre do perigo
Eu não sei d'aonde vem o tiro 
Para ouvir clique aqui
Mais uma vez muito obrigado a todos, não deixem de comentar, assistam ao tropa 2 e até a próxima.


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Açaí que eu quero ver...

Djavan Caetano Viana é natural de Maceió - AL, nasceu em 27 de janeiro de 1949 e construiu uma carreira de sucesso devido a seu talento tanto quanto músico como compositor. Suas canções cheias de swing e ritmo tem também letras encantadoras e por certos momentos um tanto quanto rebuscadas e complexas. Pois bem, seus arranjos não são diferentes (quem ao menos arranha um pouco de violão sabe bem do que eu estou falando) e por isso a música que veremos hoje é de um esmero profundo tanto na melodia, arranjos e afins, quanto na letrra. Açaí ficou conhecida em 1981 na voz de Gal costa (naquele ano e no seguinte Djavan ganhara o prêmio de melhor compositor da Associação Paulista dos Críticos de Arte). Essa canção desperta curiosidade à maioria das pessoas que a escutam e hoje, a pedidos, é ela que vamos (ao menos tentar) decifrar. Então, para mim a letra refere-se a solidão, ao sentimento de tristeza por se está só, ou por não está com quem se quer está. "Mas por que?" Você pergunta. Bem, não apenas pelo fato da música começar com a palavra "solidão" (rs) mas por todo o resto também. Vejam, a letra é bem curta e ainda assim de certa forma complexa. Djavan usa palavras rebuscadas e também faz uso da liberdade poética de forma parnasiana para aperfeiçoar algumas rimas (quando ele fala: "açaí guardiã" aliás açaí em tupi significa "fruto que chora".Se pensarmos, faz todo o sentido, pois ao mesmo tempo a letra fala de solidão e tristeza. Fruto que chora. Lágrimas. Por outro lado o açaí é uma fruta forte de alto teor calórico por isso o guardião (guardiã) e existe também uma lenda que você pode conferir aqui que talvez tenha incentivado Djavan, já que o mesmo é um admirador do nosso folclore.)
Então vamos a letra: 

Açaí
Djavan

Solidão de manhã,
Poeira tomando assento
Rajada de vento,
Som de assombração, coração
Sangrando toda palavra sã

 (Essa primeira estrofe deixa claro a solidão e o relaxamento, a falta de coragem e vontade a poeira entrando em todos os lugares trazida pelo vento. Já som de assombração faz alusão direta ao silêncio que a solidão nos oferece)

A paixão puro afã,
Místico clã de sereia
Castelo de areia,
Ira de tubarão, ilusão
O sol brilha por si

 (afã é cansaço, falta de ar, castelo de areia é facil de desmoronar. Ilusão)

Açaí, guardiã
Zum de besouro um imã
Branca é a tez da manhã

(zum de besouro gruda no ouvido como um imã. Tez é pele, a pele mais exterior, mais fina e sensível. Branco, pálido, sem energia, sem graça. Ou seja o incomodo da solidão torna as manhãs, o ato de acordar só, cor.)

Essa música foi sugestão (na verdade ela quase implorou) da leitora (e minha irmã) Grace, mesmo assim é bastante interessante.
Bom então é isso pessoal, tentei. Agora é a vez de vocês.
Abraço a todos e não deixem de comentar. 

Para ouvir Açaí clique aqui

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Admirável gado novo!

Nasce em Brejo do Cruz - PB no terceiro dia do décimo mês do ano de 1949 José Ramalho Neto. Hoje 61 anos depois e já conhecido como Zé Ramalho ele empresta (mesmo que sem ter ciência) uma de suas músicas para ser analisada aqui no musicaos. Antes de revelar de qual música se trata (apesar de desconfiar que vocês já sabem) vou desmistificar para vocês uma lenda que cerca uma outra música sua (aliás o que não falta nas músicas deste poeta é mistério). Avôhai. Muito se fala a respeito da música em que o Avôhai (1977) é Raimundo avô de Zé Ramalho que foi homenageado pelo cantor, nada mais justo. Porém muitos outros falam essa história não é verdade e que o próprio Zé Ramalho já haveria negado essa lenda. Pois bem caro leitor, o velho de botas e barbas longas que cruza a soleira é mesmo o seu Avô Raimundo, seu avô e pai. Seu Avôhai. você pode conferir a informação no site oficial do artista clicando aqui. E já que estamos falando em lenda sobre as músicas de Zé Ramalho aqui vai mais uma; existe uma história que a canção composta por Zé chamada "força verde" (do disco de mesmo nome lançado em 1982) foi toda retirada das orelhas (aqueles quadrinhos que narram as histórias dos gibis) de uma história em quadrinho de Hulk. Isso mesmo, Hulk. existem boato de que Zé Ramalho (fã assumido de quadrinhos) teria assumido ter "copiado" a poesia do Irlandês W. B Yates e só não teria dado crédito, pois não saberia como fazer para incluir o nome do "parceiro" a versão em português foi publicada no Brasil em 1972 no gibi Hulk #1 publicado pela GEA. Outra versão (parecida) que se comenta é que o cantor teria achado a poesia sem créditos na história do incrível Hulk (¬¬). Essa eu realmente não sei. não há nada a respeito no seu site oficial (rs).
Enfim, a música de hoje não é Avõhai e nem Força verde. Hoje falaremos de "admirável gado novo" música, inpirada no livro Brave new world escrito em 1932 por Aldous Huxley. O livro faz uma reflexão a respeito de uma sociedade que vive num hipotético (deveria colocar aspas) futuro onde as pessoas são conduzidas (como gado) a viverem em harmonia numa sociedade organizada por castas os valores religiosos e conceito da família não existe (achou familiar?). A músicaexplodiu em 1997 devido a inclusão da canção em Rei do gado, novela da TV Globo.
Essa música me chama atenção, sempre quis colocá-la aqui, mas só agora resolvi postar. a letra como um todo (na minha opinião) se refere ao prazer e a necessidade em que a massa alienada tem de pertencer a essa mesma massa, de poder ser, de certa forma dominada pelo "sistema" consumindo tudo o que o capitalismo selvagem nos oferece. Tá, eu sei, pareceu meio discurso de socialista clichê, mas não encontrei outra forma de expressar claramente o que percebo na letra, pois vamos deixar as metáforas com Zé Ramalho. Então para resumir essa minha percepção o refrão é perfeito "vida de gado, povo marcado, povo feliz". Tratados como números pelo "sistema" (xi... lá vem o comunista socialista, esquerdista, anarqusita...) andando em linha reta cegos pela própria alienação o povão é feliz porque te um número de CPF, RG e tantos outros documentos que permitem a massa fazer parte de uma sociedade, que os permite ter crédito na praça e comprar a perder de vista. "30, 60, 90 ,120 dias pra pagar!" "Quer pagar quanto?" "Quer pagar quando?"


Admirável gado novo (Zé Ramalho)

Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber...

E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer...

Êeeeeh! Oh! Oh!
Vida de gado
Povo marcado
Êh!
Povo feliz!...

Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal...

E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou...

Êeeeeh! Oh! Oh!

Vida de gado
Povo marcado
Êh!
Povo feliz!...

Oooooooooh! Oh! Oh!
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam essa vida numa cela...

Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A Arca de Noé, o dirigível
Não voam nem se pode flutuar
Não voam nem se pode flutuar
Não voam nem se pode flutuar...

Êeeeeh! Oh! Oh!
Vida de gado
Povo marcado
Êh!
Povo feliz!...

ouça admirável gado novo aqui

Obrigado a todos, abraços , comentem e voltem sempre.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

O filho da revolução.

Por várias vezes me pego repetindo uma mesma frase que de tanto se repetir já virou um jargão ou mesmo até uma teoria. Sempre que me perguntam sobre Renato Russo eu acabo dizendo que ele tinha o dom de escrever nossa história, escrever sobre nós e para nós sem ao menos nos conhecer. Renato Manfredini Junior nasceu em 27 de março de 1960 e morreu em 11 de outubro de 1996 e a história entre essas décadas todos nós já conhecemos. Então por ter o dom de falar sobre as pessoas sem conhece-las resolvi postar hoje uma música do filho da revolução na qual ele fala de si mesmo. "Há Tempos" é uma música da Legião Urbana escrita por Renato Russo com colaboração de Dado Vila-Lobos e Marcelo Bonfá que retrata bem o que o Renato vivia na época. Renato era soro positivo desde 1989 e quando ele diz "parece cocaína mas é só tristeza" se refere ao tamanho de sua angustia por aqueles que eram "dias desleais" pois naquela época era muito comum os jovem e principalmente os artistas usarem drogas com frequencia e a cocaína era a droga da classe média. Por isso o paralelo entre o efeito que droga causa e a tristeza de se viver esperando a morte. A música soa mesmo como um desabafo. Outra das partes que acho interessante destacar é quando ele diz "há tempos tive um sonho, não me lembro, não me lembro" que para mim significa que há muito tempo ele não sonha, não tem mais vontade de sonhar, desistiu dos sonhos. E na seqüência "tua tristeza é tão exata" significa que ele tem um motivo real e certeiro para tamanha tristeza. Também quando ele escancara e diz " há tempos são os jovens que adoecem" e toda a estrofe do final "disciplina é liberdade", (vida regrada é igual a saúde e com saúde se tem liberdade para fazer qualquer coisa) "compaixão é fortaleza" (acolher e ajudar a quem precisa nos deixa mais fortes e nos ajuda a aprender com as circunstâncias alheias) "ter bondade é ter coragem" (essa não precisa de explicação^^) "lá em casa tem um poço mas a água é muito limpa" (casa remete a família, água limpa a pureza, talvez o medo de contaminar as pessoas a sua volta).

Bom, então é isso. Essa é a minha interpretação resumida da música agora espero a interpretação de todos vocês.

Há tempos
Banda: Legião Urbana
Composição: Renato Russo / Dado Vila-Lobos / Marcelo Bonfá

"Parece cocaína
Mas é só tristeza
Talvez tua cidade
Muitos temores nascem
Do cansaço e da solidão
Descompasso, desperdício
Herdeiros são agora
Da virtude que perdemos...

Há tempos tive um sonho
Não me lembro, não me lembro...

Tua tristeza é tão exata
E hoje o dia é tão bonito
Já estamos acostumados
A não termos mais nem isso...

Os sonhos vêm e os sonhos vão
E o resto é imperfeito...

Dissestes que se tua voz
Tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira...

E há tempos
Nem os santos têm ao certo
A medida da maldade
E há tempos são os jovens
Que adoecem
E há tempos
O encanto está ausente
E há ferrugem nos sorrisos
Só o acaso estende os braços
A quem procura
Abrigo e proteção...

Meu amor!
Disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem (Ela disse)
Lá em casa tem um poço
Mas a água é muito limpa...
"


É isso, gosto muito de músicas que são textos corridos, sem refrão e que contam uma história linear.


Abraço e até a próxima.

Para ouvir Há Tempos clique aqui

quinta-feira, 1 de abril de 2010

A poesia da rotina



Antes de mais nada quero me desculpar por não postar com a frequência que vinha postando (Semanalmente) mas ando realmente sem tempo para nada, vou me esforçar para não demorar muito entre um post e outro Prometo ;)

Agora ao que interessa. Já tem um tempo que quero postar sobre essa música e essa banda pouco conhecida no brasil, mas bastante respeitadas em vários lugares de Recife. Surgida em 2006 a Martinez hoje já construiu uma certa legião de fãns fieis e incondicionais que seguia a banda pela cena de Recife. É difícil falar sobre o estilo da banda, ou com quem ela se parece, pois a banda formada por Miguel (guitarra e voz), Kássio (baixo) e Bruno (bateria) tem realmente um estilo próprio. Só mesmo escutando para tirar suas próprias conclusões.
A Martinez encerrou suas atividades num show de despedida no armazém 14 dividindo o palco com a banda carioca Ramirez (uma das influencias declaradas da Matinez). O motivo do fim para quem acabara de lançar um EP intitulado o inicio? vai saber. O vocalista Miguel Solano segue carreira solo e foi classificado para o "geleia rock" um reality show do canal multi show com muscicos infurnados num estúdio. de 2006 até hoje a Martinez gravou algo próximo a vinte e cinco ou trinta músicas e a musica escolhida para o post de hoje se chama "as mesmas pessoas no mesmo lugar" que na minha humilde opinião é a melhor música da banda. A canção foi gravada em 2007 para o EP "verdades irreais" e fala sobre a cansativa rotina de viver em uma grande cidade de forma bastante eficaz e poética. vamos a letra:

As mesmas pessoas no mesmo lugar
banda: Martinez
composição: Miguel Solano

"Fecho as cortinhas pra não realçar as feridas do meu coração
Encontro na esquina pessoas com ar de mistério ou decepção
Por nunca chegar antes dessa comédia acabar
Por ter que aturar todo dia as mesmas pessoas no mesmo lugar
Enquanto estiver correndo em volta desse mundo inseguro e fugaz
Não saio de casa ou fecho a porta e me apego ao que ficou pra trás

Em quantos segundos consigo chegar no final da antiga estação
O trem que me leva sentido ao mar, não atrasa ou perde a noção
Do quanto durou pra chegar na nova dimensão
De ter que buscar todo dia as mesmas pessoas no mesmo lugar
Enquanto estiver correndo em volta desse mundo inseguro e fugaz
Não saio de casa ou fecho a porta e me apego ao que ficou pra trás

Nem sempre estou certo no que vou dizer
Mas nunca me esqueço onde vou e o que devo ser

Pra essa verdade eu viro as costas, Já cansei de funções irreais
Enquanto um dorme ou faz apostas, outro morde e te torna incapaz"

Bem agora quero saber o que você acha da música e da letra e em seguida comento sobre minhas impressões a respeito.

para ouvir "as mesmas pessoas no mesmo lugar" clique aqui

Miguelito meu caro, tá aí. mal a demora hehehe boa sorte na sua nova empreitada

sexta-feira, 5 de março de 2010

A nebulosa ditadura





Eu tive um professor de geografia no primeiro ano do ensino médio que se chamava Sócrates (nome bastante sugestivo) que talvez tenha despertado em mim essa curiosidade por significado e mensagens em letras de músicas. O professor Sócrates não queria apenas nos ensinar sobre rochas, solo, ou população, ele sempre dizia que sua função era nos ensinar a pensar e não nos ajudar a decorar informações para passarmos em provas de colégio ou vestibular e assim levava várias músicas da de diversos compositores da época da ditadura. Pois bem, o post de hoje é sobre uma música que todos nós conhecemos, achamos linda e muito de nós apesar de termos a letra decorada talvez não a interpretamos de maneira correta (ou talvez de maneira nenhuma). O fato é que as palavras na música por vezes pode parecer soltas, meramente parnasianas, mas não são. Cada palavra na música de hoje é cheia de significado e metáfora para que pudesse passar despercebida pela censura ignorante e inculta que a ditadura (ainda mais inculta) por muito tempo nos impôs. Aliás, esses dias escutei um senhor se lamentando pelo fim da ditadura, enquanto esperava para ser atendido num consultório médico. Ele falava com um outro homem que na época da ditadura não tinha violência (vejam só) e as pessoas podiam dormir de portas abertas.
Bom se as pessoas podiam dormir de portas abertas eu realmente não sei, mas que havia violência nesse época isso eu posso garantir. A ditadura militar teve início em 1964 após um golpe militar que tirou o Presidente João Gulart do poder no dia 31 de março. Essa é uma das histórias mais contadas do Brasil. Naquela época jornalistas eram perseguidos, estudantes torturados e até hoje são inúmeros os desaparecidos. Havia uma polícia política especial chamada DOI-CODI que torturava e matava os que eram contrários ao regime do governo. Se isso não é violência eu não sei então que nome atribuir.
Voltando ao assunto da música hoje; vou fazer algo que ainda não fiz nas postagens anteriores, vou decompor a música trecho a trecho. Para isso é importante algumas explicações:
A rede globo apoiou a ditadura militar escondendo certos acontecimentos e tentando entreter através de sua programação. A ditadura impôs a todos uma grande amordaça e a única forma de expressão era através da música. Muitos artistas se refugiaram em outros países. Enfim acho que você já deve saber de que música eu estou falando. "O bêbado e a equilibrista" é uma composição de João Bosco e Aldir Blanc que foi imortalizada na interpretação de Elis Regina. A música foi muito bem interpretada pela cantora não apenas por sua técnica apurada e bela voz, mas porque Elis sabia exatamente o que estava cantando, sabia o significado e o peso de cada palavra proferida na canção. Vamos a ela:

O Bêbado e A Equilibrista

Elis Regina

Composição: João Bosco e Aldir blanc

"Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos...

(O viaduto da gameleira em BH, obra do governo que desabou em cima de carros e ônibus matando muita gente porém, nada foi noticiado pela Globo. O bêbado representava os artistas em geral que eram contra o regime militar e ousavam levantar sua voz contra a ditadura)

A lua
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel

(a lua faz alusão ao símbolo arredondado da Globo que se colocou a favor do regime. As estrelas são os generais da época donos do poder. O brilho de aluguel eram as vantagens que a Globo e outros grupos tirava da ditadura)

E nuvens

Lá no mata-borrão do céu

Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
(
As nuvens são uma metáfora aos torturadores, pois eram intocáveis e inalcançáveis. o mata-borrão do céu era o DOI-CODI. Os rebeldes eram as manchas, um erro na escrita que deveriam ser "apagados" e o sufoco louco eram claramente as torturas sofridas e mesmo assim alguns artistas não se calaram e faziam as irreverências assim como essa música)

O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Prá noite do Brasil.
Meu Brasil!...

(uma metáfora bastante utilizada por artistas da época era comparar a ditadura com noite enquanto a volta das liberdades políticas era comparada ao amanhecer)

Que sonha com a volta
Do irmão do Henfil. (
O sociólogo Betinho conhecido no mundo pela "ação cidadania" estava fugido do brasil devido a ditadura, ele é irmão do cartunista Henfil)
Com tanta gente que partiu (
referência aos exilados)
Num rabo de foguete
Chora!
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil...

(Maria é a esposa do operário Manuel Fiel Filho, morto sob tortura nos porões do DOI-CODI (SP) em janeiro de 1976 e Clarice era esposa do jornalista Wladimir Herzog também morto pelo DOI-CODI em outubro de 1975)

Mas sei, que uma dor
Assim pungente
Não há de ser inutilmente (
nenhum sofrimento será esquecido, nada vais sair de graça um dia haverá justiça)
A esperança...

Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar... (
os artistas se arriscando a serem torturados e mortos por um ideal de liberdade política e democracia)

Asas!
A esperança equilibrista (
esperança de democracia que luta para não cair diante da opressão, ou seja o bêbado e a equilibrista são os artistas e a esperança da mudança)
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar..." (
mesmo com todos esforços para calar a verdade é preciso lutar contra os opressores)

Com o regime a inflação aumentou e o poder de compra diminuiu, com isso os alimentos sumiram das prateleiras gerando as filas do feijão, do açucar, fila do gás, postos de gasolina fechados aos domingos e feriados e enquanto isso os brasileiros alienados assistiam o futebol e as novelas da globo e tudo que questionavam na época era: "Quem matou Odete Roitman?"

Bem, muita gente pode ter achado o post de hoje um tanto longo, mas tudo isso foi bastante resumido, o tema de hoje pode ser assunto pra uma vida inteira.

Abraço e até a próxima.

para ouvir "O bêbado e A equilibrista" clique aqui

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Piano Bar


Eu gosto bastante das letras do Humberto Gessinger, por isso poderia escolher muitas delas para colocar num post (não que isso não vá acabar acontecendo) mas gosto do modo como ele fala sobre relacionamentos em "Piano Bar" que se não me falha a memória é de 1991 do disco "várias variáveis". A letra da música descreve (na minha visão) um casal que aos poucos se distanciavam e em uma certa noite se aproximam outra vez, apesar de muitos também acharem que a certa guria na qual o Humberto se refere seja alguma droga (fala sério) devido a um trecho da música que depois foi retirada em outras versões.


O Trecho:

"no início era um precipício
(um corpo que caía) depois virou um vício foi tão difícil acordar no outro dia ela apareceu, parecia tão sozinha
parecia que era minha aquela solidão"


Bem, é fato que com e sem o trecho a música parece ter sentidos diferentes, mas mesmo assim não acho que quando ele diz que "o fogo ilumina muito por muito pouco tempo" ele esteja se referindo a um cigarro ou a algum efeito passageiro que as drogas trazem. Enfim a idéia deste blog é que vocês exponham aqui suas interpretações, sensações e outros sentimentos mais sobre as letras das músicas que vão sendo postadas.

Outro detalhe que quase esqueço de comentar é a melodia e os arranjos da música, que até certo ponto é apenas o piano e a voz e a música explode quando entra a banda e a música vem crescendo até o seu auge quando ele diz " ontem a noite eu conheci uma guria" a intenção da letra combina com a música e isso foi uma das coisas que mais me chamaram atenção para que eu escolhesse essa música para colocar aqui. Agora deixo vocês com a letra e a música de Humberto Genssinger um dos grandes compositores da década de oitenta.

Piano Bar

Banda Engenheiros do Hawaii

Composição: Humberto Gessinger


"O que você me pede eu não posso fazer
Assim você me perde, eu perco você
Como um barco perde o rumo
Como uma árvore no outono perde a cor.

O que você não pode, eu não vou te pedir.
O que você não quer, eu não quero insistir.
Diga a verdade, doa a quem doer.
Doe sangue e me dê seu telefone.

Todos os dias eu venho ao mesmo lugar,
Às vezes fica longe, impossível de encontrar
Mas, quando o Bourbon é bom
Toda noite é noite de luar.

No táxi que me trouxe até aqui Willie Nelson me dava razão,
As últimas do esporte, hora certa, crime e religião.
Na verdade 'nada' é uma palavra esperando tradução.

Toda vez que falta luz,
Toda vez que algo nos falta
O invisível nos salta aos olhos,
Um salto no escuro da piscina.

O fogo ilumina muito por muito pouco tempo
Em muito pouco tempo, o fogo apaga tudo.
Tudo um dia vira luz.
Toda vez que falta luz
O invisível nos salta aos olhos.

Ontem à noite, eu conheci uma guria
Já era tarde, era quase dia.
Era o princípio num precipício.
Era o meu corpo que caía.

Ontem à noite, a noite tava fria
Tudo queimava, mais nada aquecia.
Ela apareceu, parecia tão sozinha.
Parecia que era minha aquela solidão".

Eu conheci uma guria que eu já conhecia
de outros carnavais com outras fantasias
Ela apareceu, parecia tão sozinha.
Parecia que era minha aquela solidão.

para ouvir a música:

http://www.youtube.com/watch?v=2d2IMtZYawc (versão 10.000 destinos ao vivo)

http://www.youtube.com/watch?v=oINcc413xIE (com o trecho final que foi retirado)