domingo, 23 de outubro de 2011

Bola de meia, bola de gude

Milton Nascimento nasceu no Rio de Janeiro em 26 de outubro de 1942, sua trajetória só não é maior que seu talento. Conhecido internacionalmente, Milton ficou famoso no Brasil com a canção "Travessia". Dono de uma humildade destoante que só cabe aos grandes, Milton Nascimento tem uma história de vida de tocar o mais áspero dos corações que você pode conferir em seu site oficial clicando aqui. Devo confessar que não é nada fácil escolher apenas uma música de cada artista para postar aqui no blog e que um dia, talvez, eu quebre esta regra que eu mesmo (não sei por que) resolvi instituir. Enfim, a música que escolhi foi uma das primeiras músicas dele que conheci através do meu pai (valeu paizão!) que há alguns anos atrás tinha uma fita K7 (nossa!) do 14 biz com o Milton onde eles cantavam juntos "Bola de Meia, Bola de Gude". Quando criança não conseguia compreender muito bem o que dizia a letra, mas a música era bastante agradável e meu pai gostava bastante, para uma criança só isso já bastava para influenciar-se (ainda bem que meus pais não ouviam brega, axé e pagode rsrsrs). Hoje fica claro perceber que a música fala de algo que sempre teremos que nunca vamos perder; A criança que existe em nós, nosso lado infantil e simplista.


Bola de Meia, Bola de Gude
(Milton Nascimento)


Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal
Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão
É como se buscássemos no nosso lado infantil uma forma de lidar com as adversidades da vida adulta "toda a vez que o adulto balança o menino me dá a mão" e ainda "há um passado no meu presente" reforçam essa ideia de que nosso eu infantil está sempre presente pois tudo que já fomos um dia faz parte do que somos hoje. É ver o lado positivo que está fortemente presente na infância. A música busca uma melhor maneira de convivência e forma de encarar a vida, com bondade, honestidade e respeito aos demais ("não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal ").
Então é isso. No post passado, prometi não prometer nada e até que deu certo. Não demorei tanto para postar outra vez ;)
Abraços a todos, comentem e até a próxima!

domingo, 2 de outubro de 2011

A banda

Salve galera! Depois de muito tempo jogado ao acaso, resolvi postar outra vez. Faz tempo que queria postar uma música de Chico Buarque, mas sempre que pensava me vinha uma pergunta que, apesar de simples, não era nada fácil de responder. Qual? Afinal são tantas (pra não dizer todas) obras primas que o senhor Buarque de Holanda possui que francamente não foi fácil optar por uma. Enquanto amadurecia a ideia da postagem fiz uma triagem até chegar na música que iria postar. Havia escolhido duas finalistas para delas tirar a vencedora rsrsrs, porém acabei optando por uma outra que não estava no páreo. Primeiro pensei em postar "Angelica" (calma, não é a do taxi. Não consegui não fazer essa piada infame, perdão.) por ser uma canção que ele fez para sua amiga Zuzu Angel, estilista que perdeu um filho para a ditadura e então percebeu a realidade de opressão da mesma e passou a combatê-la. A música fala da dor da perda da mãe que se quer teve o direito de enterrar o filho que depois de torturado e morto teve seu corpo jogado ao mar. A outra música era a genial "Cálice" que também fala da ditadura. A letra é fantástica e muito bem construída em cima de um duplo sentido só não claro para os censores da ditadura, além de brincar com a fonética (cale-se) o cálice também se refere as mão presas na algema que fazem um formato de cálice. Enfim, é uma das minha favoritas. Porém eu "estava a toa em casa e o meu amor me chamou" para almoçar com minha filha. Entramos no carro e quando eu liguei o som, havia um cd do Chico e a música que começou a tocar foi "A banda" tamanha foi minha surpresa quando minha pequena de três aninhos começou a cantar a música inteira! E durante todo o caminho cada vez que a música acabava ela pedia para tocar outra vez. Então depois do fato não poderia postar outra música que não fosse 'A banda'. Vamos a ela:

Na minha humilde opinião Chico Buarque faz uma metáfora e um paralelo com a banda. Tempos atrás, era de costume nas cidades do interior que com a chegada de um circo na cidade, a banda do circo e toda a trupe entravam tocando passando pela praça dessas cidades trazendo alegria e uma certa fuga da rotina para os moradores. Chico dialoga com isso porém no auge de sua perspicácia trata a banda como a própria ditadura. A música foi escrita nos anos 60, início da ditadura. E no início sobretudo havia ainda uma certa inocência do povo em acreditar que a ditadura seria algo de positivo, mais do que isso havia uma preocupação maior do governo em transparecer que de fato seria. Por isso a banda retratada na letra da música significa a propaganda nacionalista da ditadura e suas falsas promessas. A ideia de tratar a ditadura como uma banda é muito boa, pois como bem sabemos além de banda de circo, as bandas marciais também desfilam nas ruas das cidades em ocasiões consideradas especiais. Ou seja um disfarce para passar pela censura e uma pista para os próprios censores de que a música falara deles. Genial.

A banda
(Chico Buarque)


Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem
A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela
A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor
Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou
E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor...
(essa última estrofe deixa claro o que foi dito acima. Antes não havia cada qual no seu canto e nem dor em cada canto, mas depois que a "banda" passou a dor e o medo passou a ser cotidiano)
Então é isso espero que vocês comentem e deem sua visão a respeito da letra. Peço desculpas pela demora, porém não vou mais prometer tentar não demorar entre uma postagem e outra porque sempre que prometo demoro mais, então o máximo que posso fazer é prometer não prometer mais nada rsrs. Abraço a todos!

sexta-feira, 18 de março de 2011

Até quando esperar...

A plebe rude foi uma das grandes bandas de Brasília dos anos 80. Com letras inteligentes e críticas, que iam direto ao ponto, a plebe, assim chamada pelos fãs, teve de encarar situações difíceis como por exemplo apanhar da polícia por conta de suas músicas. A música mais famosa da banda foi composta em 1983 por Philippe Seabra que ná época tinha de 15 para 16 anos. Quase 30 anos depois a música parece ainda fazer bastante sentido perante a realidade do Brasil. Mas o que me chama atenção mesmo é que um garoto de 16 anos a tenha escrito, pois hoje se pararmos para pensar nos nossos jovens de quinze e desesseis anos que dizem gostar de rock perceberemos de fato que as músicas que eles gostam, que eles denominam rock, são meros versos rasos sem sentido, razão, idéia ou fundamento. São garotos brancos em roupas coloridas pulando que nem pipoca. Esses coloridos são os responsáveis pelo que pensa, veste, come, bebe e usa essa nova geração. Então se antes tinhamos garotos de 16 anos com alta capacidade cognitiva e de processamento e análise crítica das informações, garotos com a capacidade de questionar e escrever coisas como "com tanta riqueza por aí aonde é que está? cade sua fração? até quando esperar a plebe ajoelhar, esperando a ajuda de Deus?" hoje temos garotos com mais de 16 anos escrevendo coisas como "E é verão, eu quero festa e diversão, mais...queria ver o sol nascer até o amanhecer" ou "você é raio de saudade meteoro da paixão" e sem toda aquela capacidade de entendimento de construções mais complexas, ou do mundo a sua volta. Essa é a geração que estamos construindo. Estamos em processo de regressão?
Então é isso, como a música de hoje vai direto ao ponto, não precisaremos das letrinhas vermelhas rsrsrs
Abraço a todos, não deixem de comentar e até a próxima

Até Quando Esperar
Plebe Rude
Composição: André X/Gutje/Philippe Seabra

Não é nossa culpa
Nascemos já com uma bênção
Mas isso não é desculpa
Pela má distribuição

Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração
Até quando esperar

E cadê a esmola que nós damos
Sem perceber que aquele abençoado
Poderia ter sido você

Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração

Até quando esperar a plebe ajoelhar
Esperando a ajuda de Deus
Até quando esperar a plebe ajoelhar
Esperando a ajuda de Deus
Posso
Vigiar teu carro
Te pedir trocados
Engraxar seus sapatos

Posso
Vigiar teu carro
Te pedir trocados
Engraxar seus sapatos

Sei
Não é nossa culpa
Nascemos já com uma bênção
Mas isso não é desculpa
Pela má distribuição

Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração

Até quando esperar
A plebe ajoelhar
Até quando esperar
A plebe ajoelhar
Esperando a ajuda do divino Deus


terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O homem e seu desengano.

Tito Lívio nasceu no bairro da Várzea, Recife, no dia 20 de abril de 1957. Começou a tocar violão, cantar e compor ainda na adolescência. Participante do movimento musical pernambucano desde fins da década de 70. Compositor respeitado no meio musical, Tito Lívio teve suas músicas gravadas por cantores como Alceu Valença (Arreio de Prata), Elba Ramalho (Lua Viva), Desengano (Zeca Baleiro), Santos Peregrinos (Alcymar Monteiro), entre outros.
Tito possui dois discos solos gravados: "A Fala", 1990, pela Polydisc e "Feito Pra Tocar No Rádio", 2009, com patrocínio do Funcultura, que recebeu calorosas e positivas críticas publicadas nos três grandes jornais da cidade, e que conta com as participações especiais de Alceu Valença, Elba Ramalho, Dominguinhos, Cezinha do Acordeon, Beto Hortis, Liv Morais, entre outras.

A canção escolhida para este post chama-se desengano, recentemente gravada por Zeca Baleiro no seu disco "concerto" (2010). A meu ver a música conta um desabafo de um sujeito de meia idade (possívelmente um músico rsrs) que ao ver as manifestações da juventude atual, se recorda da juventude de sua geração e em todos os sacríficios e loucuras que fez em prol de um ideal. Bem, vamos a letra da canção e a volta das letrinhas vermelhas!

Desengano
(Tito Lívio / Lula Côrtes)


Toda vez que olho o desengano
Nas frases do canto fosco dessa juventude
Vejo meu sorriso magro,
Meu corpo suado se encarquilhar
E quando franzo a testa,
E sério suo o rosto cor de madrugada
E quando me deprimo e curvo os ombros pra pensar


(Desengano é franqueza sinceridade, o autor recorda-se do tempo em que era seu o canto fosco e mal ouvido e percebe que envelheceu ("sinto meu sorriso magro, meu corpo suado se encarquilhar") porém as lembranças trazem de volta o ideal de sua juventude deixando-o inquieto ("E quando me deprimo e curvo os ombros pra pensar")


Penso nos martírios,
Todos os delírios loucos que vivenciamos
E vejo por quanto anos nos aventuramos querendo voar
Voar pra sair de perto,
De todo deserto desses abandonos,
E constatando o desengano se despedaçar.



(Os sacrifícios e atitudes consideradas fora do padrão, a rebeldia em nome de uma causa, ou talvez a própria causa. No entanto o autor entende que sua causa fora derrotada ("E constatando o desengano se despedaçar"). É como se ele já não devesse mais acreditar


Desfeito em pedaços,
Sigo no encalço desse sonho
Vejo meu sorriso magro,
Coração amargo se atrapalhar
Quando franzo a testa,
E sério suo o rosto cor de madrugada
Quando abro os olhos, olhos claros para o mar.


(Mas mesmo vendo sua ideologia cair por terra, ele insiste em "lutar" por ela. E então existe um conflito de emoções ("Vejo meu sorriso magro, coração amargo se atrapalhar")


Então é  isso meus queridos, espero ter sido claro e que vocês possam comentar e também contemplar suas opiniões a respeito. Ouçam a música abaixo e não deixem de comentar.


Um forte abraço e até a próxima.





Para ouvir outras músicas de Tito Lívio clique aqui.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Camila Camila

Salve galera! Depois de muito, muito, mas muuuito tempo de espera o blog finalmente foia atualizado. Vamos considerar que o #MusiCaos estava de férias ^^. Pois bem, o post de hoje é curto porém necessário. Abordaremos a violência contra mulher. A mulher sofre violência doméstica desde os primórdios da sociedade e ainda nos dias atuais. Várias medidas foram tomadas a respeito com o passar dos anos, a principal delas a lei  nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, conhecida como lei Maria da Penha. A música de hoje é Camila Camila do Nenhum de Nós a primeira (e talvez única) banda de rock a abordar a violência contra a mulher nas letras de suas músicas. É interessante que a letra é um história contada em primeira pessoa (ou seja a própria Camila a conta) ,  coisa pouco comum no rock, porém muito comum de se ver nas letras de Chico Buarque. Enfim, vamos a letra:


Camila Camila
Nehum de Nós
Composição: Carlos Stein / Sady Hömrich / Thedy Corrêa

Depois da última noite de festa
Chorando e esperando amanhecer, amanhecer
As coisas aconteciam com alguma explicação
Com alguma explicação

Depois da última noite de chuva
Chorando e esperando amanhecer, amanhecer
Às vezes peço a ele que vá embora
Que vá embora

Camila
Camila, Camila

Eu que tenho medo até de suas mãos
Mas o ódio cega e você não percebe
Mas o ódio cega

E eu que tenho medo até do seu olhar
Mas o ódio cega e você não percebe
Mas o ódio cega

A lembrança do silêncio
Daquelas tardes, daquelas tardes
Da vergonha do espelho
Naquelas marcas, naquelas marcas

Havia algo de insano
Naqueles olhos, olhos insanos
Os olhos que passavam o dia
A me vigiar, a me vigiar

Camila
Camila, Camila

E eu que tinha apenas 17 anos
Baixava a minha cabeça pra tudo
Era assim que as coisas aconteciam
Era assim que eu via tudo acontecer






Então é isso pessoal. Abraço a todos e não deixem de comentar.