
O Bêbado e A Equilibrista
Composição: João Bosco e Aldir blanc
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos...
(O viaduto da gameleira em BH, obra do governo que desabou em cima de carros e ônibus matando muita gente porém, nada foi noticiado pela Globo. O bêbado representava os artistas em geral que eram contra o regime militar e ousavam levantar sua voz contra a ditadura)
A lua
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel
(a lua faz alusão ao símbolo arredondado da Globo que se colocou a favor do regime. As estrelas são os generais da época donos do poder. O brilho de aluguel eram as vantagens que a Globo e outros grupos tirava da ditadura)
E nuvens
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
(As nuvens são uma metáfora aos torturadores, pois eram intocáveis e inalcançáveis. o mata-borrão do céu era o DOI-CODI. Os rebeldes eram as manchas, um erro na escrita que deveriam ser "apagados" e o sufoco louco eram claramente as torturas sofridas e mesmo assim alguns artistas não se calaram e faziam as irreverências assim como essa música)
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Prá noite do Brasil.
Meu Brasil!...
(uma metáfora bastante utilizada por artistas da época era comparar a ditadura com noite enquanto a volta das liberdades políticas era comparada ao amanhecer)
Que sonha com a volta
Do irmão do Henfil. (O sociólogo Betinho conhecido no mundo pela "ação cidadania" estava fugido do brasil devido a ditadura, ele é irmão do cartunista Henfil)
Com tanta gente que partiu (referência aos exilados)
Num rabo de foguete
Chora!
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil...
(Maria é a esposa do operário Manuel Fiel Filho, morto sob tortura nos porões do DOI-CODI (SP) em janeiro de 1976 e Clarice era esposa do jornalista Wladimir Herzog também morto pelo DOI-CODI em outubro de 1975)
Mas sei, que uma dor
Assim pungente
Não há de ser inutilmente (nenhum sofrimento será esquecido, nada vais sair de graça um dia haverá justiça)
A esperança...
Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar... (os artistas se arriscando a serem torturados e mortos por um ideal de liberdade política e democracia)
Asas!
A esperança equilibrista (esperança de democracia que luta para não cair diante da opressão, ou seja o bêbado e a equilibrista são os artistas e a esperança da mudança)
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar..." (mesmo com todos esforços para calar a verdade é preciso lutar contra os opressores)
Com o regime a inflação aumentou e o poder de compra diminuiu, com isso os alimentos sumiram das prateleiras gerando as filas do feijão, do açucar, fila do gás, postos de gasolina fechados aos domingos e feriados e enquanto isso os brasileiros alienados assistiam o futebol e as novelas da globo e tudo que questionavam na época era: "Quem matou Odete Roitman?"
Bem, muita gente pode ter achado o post de hoje um tanto longo, mas tudo isso foi bastante resumido, o tema de hoje pode ser assunto pra uma vida inteira.
Abraço e até a próxima.
para ouvir "O bêbado e A equilibrista" clique aqui
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